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Cobranças

Foi há algum tempo, quando ganhei meu segundo bebê, no meio do caos, que me bateu o estalo: eu tenho ‘mesmo’ que dar conta de tudo?
Passei algumas horas daquele dia refletindo sobre as cobranças que eu mesma me fazia (reflexo da pressão do mundo?). Eu tinha-que-ser ótima. Ótima mãe, ótima esposa, ótima dona de casa, profissional e mulher. E essa cobrança só tinha um único resultado prático – eu me sentia cada vez pior. Nada ótima.
Será mesmo que as pessoas me olhariam com admiração diante de uma pia limpa e uma casa impecável? Ou deixariam de me encher de pitacos por cronogramar o dia inteiro dos meus filhos? Deixariam de me criticar se eu estivesse duas horas na academia de domingo a domingo pra ter o corpo no grau? Elogiariam minhas saídas de sábado à noite com o marido, pra cultivar a chama do meu casamento? Diriam o quanto sou incrível por, além de tudo, dar tudo de mim no trabalho?
A verdade é que a gente vive em função de agradar (ou não desagradar) o mundo e exerce todos esses papéis distorcidamente. Se um dia a gente cai na real, percebe que melhor que dar-conta-de-tudo é viver intensamente o que tem pra ser vivido. Tem louça pra lavar, mas tem um ser humano precisando do descanso de uma noite mal dormida.Tem o casamento deixado de lado, mas tem a cumplicidade do amor criando os filhos em união. Tem o cabelo desgrenhado e unhas por fazer, mas tem olhares sorridentes pra você de cara amassada e tudo. Tem vida sendo vivida e a perfeição não se encaixa nela.
Eu respirei o mais profundo que consegui pra assimilar o cheiro da liberdade daquela descoberta. E sempre que essas amarras insistem em reaparecer, eu recobro a sanidade puxando o ar bem forte: eu não tenho que dar conta de tudo.